O artigo “CÓDIGO Q: HISTÓRIA E CURIOSIDADES” foi desenvolvido e apresentado pelos Rancheiros na edição #304 da NetBR (DVBrazil). Segue abaixo o conteúdo desta incrível História do “Código Q”, utilizada até hoje no radio-amadorismo, por mais de cem anos.
CÓDIGO Q: HISTÓRIA E CURIOSIDADES
Na noite de 15 de Abril de 1912 no Oceano Atlântico Norte, afundava o famoso navio RMS TITANIC. Após colidir com um iceberg começou a inundar a naufragar lentamente, então dois operadores de rádio enviavam insistentemente mensagens telegráficas pelas ondas do rádio, enquanto a tripulação soltava fogos de artifício de forma intensa. O que era pra ser um pedido de socorro, acabou virando uma bagunça total. Logo nos primeiros dias após o naufágio, foi convencionado que embarcações em situações de emergência deveriam usar sinalizações e fogos exclusivamente na cor vemelha, para que embarcações próximas percebessem tratar-se de uma emergência e não de uma festa multi-colorida com pessoas felizes. Também determinou-se que a transmissão telegráfica padrão para emergências fosse o código S.O.S.
O RMS Titanic utilizava serviços e equipamentos MARCONI, que na época utilizavam as tabelas telegráficas de comunicação comercial em navios com passageiros. Ocorre que na época, diferentes operações utilizavam diferentes tabelas telegráficas, sendo: comerciais, maritimas, militares, corretagem, e radio-amadorismo. Por exemplo, a tabela maritima da Marconi definia que o código de emergência era o C.Q.D., incompreensível para demais operadores marítimos que estariam aguardando um S.O.S. O CQD seria o CQ (chamada geral) +D (Distress, emergência). Já o S.O.S. era um padrão mais reconhecível para operadores não comerciais com seu distinto — … — (3 traços, 3 pontos, 3 traços).
Dois meses após o desastre, em Junho daquele ano, a ITU (União Internacional de Telegrafia) convocou seus países membros para a “Conferência Internacional de Telegrafia”, onde foi convencionado o uso do novo “Código Q” para toda e qualquer comunicação telegráfica em qualquer operação: comercial, maritima, amadora, formal ou não formal, e até mesmo na incipiente aviação. A primeira tabela com códigos Q foi criada pela Marinha Britânica em 1910, e fazia portanto algum sentido que a ITU iniciasse com este padrão já estudado e já em uso – O Código Q. A primeira letra, o “Q” (Quebec) * foi escolhido por seu uma letra pouco usada no idioma inglês, portanto seria mais fácil para os telegrafistas identificarem tratar-se de código de tabela.
A segunda letra do código Q dividiria as categorias gerais para as tabelas. Letras de A até N (QAA até QNZ) seriam reservadas para assuntos de navegação (maritima e aérea). As letras Q, O e P seriam de uso privado. A letra R seria especificamente para operação de rádio (potência, frequência, pausa, interferência, etc). A letra S seria especifica para confirmações, tráfego operacional e negociações. A letra T seria usada para termos e assuntos de designação (hora, local, rumo, comando, comunicado, etc). As letras U, V e W seriam estritas para uso militar. As letras X, Y, Z, ficariam reservadas para uso futuro.
Fora do código Q, mas ainda padronizados por ele, permaneceram o S.O.S. e o 73. O 73 era o famoso código de finalização desejando “Melhores Saudações” na tabela telegráfica comercial. Em 1914, na Primeira Guerra Mundial, forças militares de diferentes países adotaram o Código Q em comunicações telegráficas e de fonia, visto tratar-se de um conflito que envolvia operadores de rádios de diferentes países com diferentes idiomas. Os militares viriam a substituir o código Q pelo “Código Z” somente em 1945, já ao final da Segunda Guerra Mundial.
Agora que relembramos a história do “Código Q”, vamos a algumas curiosidades.
QSJ – Sierra Juliet utilizado para designar pagamento ou taxa. Historicamente, a moeda padrão implícita no uso internacional do QSJ era o Franco Francês de Ouro (Gold Franc) — moeda de referência da União Postal Universal (UPU) no início do século 20. A partir de 2002 com a adoção do Euro como moeda oficial da União Européia e substituindo o Franco Francês, o QSJ quando utilizado como unidade, refere-se até hoje como Euro (1 QSJ = 1 Euro) e especialmente na navegação marítima. Nós radio-amadores adotamos desde a década de 80 o QSJ quando em unidade, como em Dólar Americano (1 QSJ = 1 USD).
73, QRT, ou QRX? Nós radio-amadores, as comunicações maritimas, e as antigas comunicações comerciais em telegrafia, usam o 73 para finalizar uma conversa (dar por encerrado um QSO). Já o QRX indica uma pausa, que o operador está fazendo uma pausa e logo retornará a frequência (QRG), e quando usado como unidade refere-se a minutos (Ex: QRX 10 = 10 minutos de pausa). Já o QRT indica que o operador de rádio está encerrando a transmissão específica e que não fará nova transmissão enquanto não for solicitado.
Código SVP – Apesar de existir o código PSE como indicador de “Please” ou “Por Favor”, radio-amadores e navegação maritima acabaram por adotar o antigo código S.V.P. (Sil Vous Plait, ou “por favor” em Francês), nas comunicações de rádio em telegrafia e fonia.
Cultura QRP – Ao informar QRP o operador indica que seu equipamento está em baixa potência, bem como o uso de “QRP SVP” como indicação de “reduza a potência de transmissão por favor”. Todavia os radioamadores sempre ávidos por novas conquistas, testam potências menores para conseguirem chegar mais longe, geralmente desenvolvendo suas próprias antenas – a cultura QRP. Aliás vale lembrar: em contestes e pileups, estações em QRP merecem prioridade.
Se você receber uma mensagem do tipo “SOS QSY 14280 QRT SVP” nós radioamadores saberemos do que trata-se e saberemos como agir. Antes de finalizarmos… E você? Conhece alguma outra curiosidade ou história sobre o Código Q? Conte aqui para nós…