QRGs de emergência

Na edição #306 da NETBR (DVBrasil) os Rancheiros abordaram o tema das QRGs de emergência, em operações marítimas, faixa do cidadão, radioamadorismo, e navegação aérea.

EM FREQUÊNCIAS MARÍTIMAS

Um colega radioamador em período de férias no litoral norte paulista, estando em uma praia próxima ao canal de IlhaBela e do porto de São Sebastião, resolveu “corujar” as frequências marítimas através de um SDR (receptor dinâmico de rádio ligado a um computador). Notou que alguns canais tinham um tráfego relativamente alto, em especial os canais de balizamento, mas que havia algum tráfego no canal 16 (VHF FM 156,800MHZ). Captando o audio do canal 16, eram comuns os pedidos de contato entre embarcações, por exemplo “Embarcação Alpha 1 chamando embarcação Beta 2” e em seguida a embarcação chamada respondia brevemente “Vamos para o canal 9”. Ou seja, o canal 16 que deveria estar restrito para emergências, era usado como canal de contato. 

Curioso para compreender o que ali ocorria, fez algumas pesquisas na Internet mas não encontrou uma resposta objetiva. Todavia radioamadores não podem operar em frequências marítimas, somente embarcações licenciadas ou operadores licenciados podem falar nas frequências maritimas. Procurou uma marina próxima para sanar esta curiosidade e lhe foi explicado o seguinte: o Canal 16 realmente é a frequência de emergência, e há uma coordenação geral ainda que informal, de que as embarcações que não estiverem operando rádio fiquem sintonizando o canal 16 o tempo todo, e portanto acabam utilizando-a como “ponto de encontro”. Naquela região, até 10 milhas náuticas do porto (de São Sebastião) o canal 11 pode ser usado em emergência pois é a frequência operacional daquele porto e sempre haverá alguém ouvindo. Mas que além de 10 milhas nauticas daquele porto, ou em alto-mar, deve preferir o canal 16. IMPORTANTE: esta foi uma informação passada por um gerente de marina, não consultamos o operador do porto nem a Marinha do Brasil para validar se esta informação é válida e completa.

Podemos então ao menos inferir, que em frequências marítimas, o canal 16 é o canal de emergência, e para incentivar que outras embarcações estejam sintonizando a frequência, acabam a utilizando – e tolerando – como canal de contato. Lembrando que a licença de radioamadorismo não permite operar nas frequências marítimas.

FAIXA DO CIDADÃO

Este mesmo colega, também licenciado na faixa do cidadão e portador de indicativo PX,  tentou observar o compotamento nas frequências de emergência na faixa do cidadão. Nesta faixa, as frequências de emergência são o canal 9 (27.065MHZ AM) e canal 19 (27.185MHZ AM), sendo o canal 9 designado internacionalmente, e o canal 19 para emergências rodoviárias. Chamando o canal 9 alí na praia onde estava, alertando tratar-se de simulação e não de emergência real, nenhum retorno era obtido após várias tentativas ao longo do dia e noite. Todavia a banda não estava vazia, pelo SDR podia notar que outras estações estavam em “bate-papo” em outros canais, especialmente entre os canais 30 e 40. Para a viagem de volta para a Capital paulista, montou seu RP-50 e antena no veículo, e foi para a estrada fazer chamadas no canal 9. Em nenhum trecho obteve retorno no canal 9, nem na rodovia Rio-Santos, nem na Rodovia dos Tamoios, nem da Rodovia presidente Dutra entre São José dos Campos e Guarulhos. Durante o trajeto e entre os testes, ativou o “scanner” de canais, e pode perceber alguns “bate-papos” em alguns canais espalhados, e um tráfego bastante intenso no canal 5, um ponto de contato adotado pelos caminhoneiros no Brasil (e talvez na América do Sul). Na América do Norte utilizam o canal 6 para o mesmo fim, e aos finais de tarde podemos ouvir-los aqui no Brasil.

Podemos observar que, a depender da região do Brasil, fazer chamadas de emergência no canal 9 pode ser inútil, talvez sendo mais útil tentar contactar o canal 5 (27.015MHZ AM), ou mesmo ir de canal em canal até encontrar algum “bate-papo”. Um adendo:  entre os canais 41 e 80 é mais comum a operação em banda lateral.

NO RADIOAMADORISMO

Aqui no Brasil nós radioamadores temos algumas frequências destinadas para emergências ou mesmo coordenação de emergências. Vamos a elas:

– Em 80M, 3.760KHZ modo LSB, para Emergência e Defesa Civil

– Em 40M, 7.110KHZ modo LSB, definida pela LABRE como QRG nacional de emergência

– Em 20M, 14.300KHZ modo USB, a frequência internacional de emergência

– Em 15M, 21.360KHZ modo USB, frequência internacional de emergência, menos comum

– Em VHF, 146,450MHZ FM Simplex, adotada no Brasil por Defesa Civil e voluntários

– Em VHF, 146,520MHZ FM Simplex, QRG nacional adotada por radioamadores

– Em UHF, 433,500MHZ FM Simplex, ou em Duplex (-5MHZ offset) quando disponível

Na rede DMR BrandMeister temos no TG 724193 destinado para coordenação de emergências, e com boa chance de sucesso no contato. Caso não consiga retorno no 724193 procure chamar o TG 724, onde encontrará um grande número de corujas o tempo todo.

Nas QRGs de fonia o ideal é procurar cada uma das QRGs  citadas, talvez com maior chance de sucesso em 14.300KHZ ou 146.520MHZ . Uma alternativa é varrer o VFO a procura de QSO em andamento e anunciar emergência. Para interromper um QSO e anunciar emergência ou pedido de ajuda, aguarde o término da transmissão, e transmita “PAM PAM, PAM PAM, pedido de ajuda” ou “S.O.S., Sierra Oscar Sierra, emergência em andamento”. Aguarde alguns segundos para que os outros radioamadores deixem a QRG livre (conforme nosso código de Ética e Conduta) e prossiga com seu pedido.

NAVEGAÇÃO AÉREA

Na navegação aérea, há frequências internacionais específicas e obrigatórias para comunicações de emergência, definidas pela ICAO (Organização da Aviação Civil Internacional) e adotadas globalmente, inclusive no Brasil pela ANAC e DECEA.

A mais comum é a 121.500MHZ em fonia AM, que é a frequência internacional de emergências áereas (aeronaves com dificuldades de navegação, dificuldades de comunicação, ou em emergência ainda não respondida). Esta frequência é conhecida como “GUARD Frequency” ou “frequência de guarda” e é constantemente monitorada pelos centros de controle de tráfego aéreo e por outras aeronaves.

Um radioamador corujando esta frequência dificilmente captará algo, é uma QRG que deve permanecer disponível. Eventualmente algum ATC (controlador de tráfego) adentrará a frequência para anunciar algum boletim de situação metereológica perigosa ou anúncios de fechamento de trechos do espaço aéreo (chamados de NOTAMs).

Uma situação muito improvável de ocorrer é um radioamador corujando a frequência e notar um pedido de “MAYDAY” sem resposta. O que fazer? Bem, se a aeronave continua enviando MAYDAY sem resposta alguma, o mais provável é que a aeronave não esteja recebendo as respostas. Se você ouve o MAYDAY e mais nada, aguarde 3 pedidos, e entre na frequência anunciando seu indicativo de estação e sua cidade (os pilotos saberão reconhecer o indicativo como uma estação de radioamadorismo). Se voltar a ouvir MAYDAY, não insista. Se houver interesse da aeronave em manter contato com você, o piloto repetirá o SEU indicativo e transmitirá algumas informações – geralmente em idioma inglês – para que você anote. Na sequência, transmita de volta repetindo tudo o que anotou, para que o piloto tenha ciência de que você anotou corretamente. Talvez a aeronave responda com um “ROGER” ou “HOLDING”. Imediatamente entre em contato nos  telefones de emergência do CINDACTA ou do DECEA e informe a emergência e o que anotou. Bem… esta é uma situação muito improvável como mencionado, talvez com alguma chance de ocorrer em áreas remotas, florestas densas ou alto mar, onde não há cobertura de rádio dos centros de controle do espaço aéreo, ainda assim a probabilidade é realmente ínfima (assim esperamos). Vale lembrar que apenas aeronaves licenciadas e controladores aéreos podem operar nas frequências de aviação. Transmitir nestas frequências sem autorização ou sem comprovada justificativa de emergência, constitui um crime grave e com consequências severas.

Para finalizarmos o tema desta noite, uma orientação importante a radioamadores que queiram corujar frequências de emergência. De nada vai adiantar corujar QRGs de emergência se você não tiver acesso a um telefone e não souber os números de telefone das autoridades competentes para o tipo correspondente de auxílio. Se não possui telefone disponível (por exemplo em  áreas remotas) ao menos certifique-se de ter contato com algum outro radioamador disponível  que tenha acesso a telefone. Caso receba um pedido de ajuda ou socorro e decida ajudar, lembre-se que seu papel está restrito a rádio-comunicação, não entre em desespero, e também não tente heroismo, não dê instruções ou orientações sobre assuntos que você não domina ou não possui ação. Imediatamente encaminhe a solicitação para a autoridade correspondente (maritima, aérea, rodoviária, polícia, bombeiros, SAMU, Defesa Civil, etc) e fique restrito a intermediar as comunicações até que a autoridade, ou o solicitante, o libere.

Ademais, os radioamadores também possuem a disposição as redes de emergência de rádio (as REER estaduais) que vale a pena conhecer e participar.

Mas e você? Conhece alguma outra frequência ou prática de emergência em rádio? Já precisou solicitar ajuda ou já atendeu alguma emergência em rádio? Deixe aqui seu comentário.

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