QAP ou QRV? Equívocos e curiosidades na fraseologia

QAP? Xingu? PFV? Conheça e evite os enganos mais comuns de fraseologia no radioamadorismo.

QAP? ou QRV?

QAP é um código usado na aviação para perguntar ou responder em qual frequência (em kHz) o operador deve sintonizar e aguardar. Operadores de serviços privados usam o “QAP?” para perguntar se o interlocutor recebeu a mensagem ou se ainda encontra-se no canal. Este hábito acabou migrando para o radioamadorismo e o “QAP” ganhou significados diversos. Porém no radioamadorismo adotam-se os códigos específicos para estas funções: QSY para mudança de QRG, QSL para confirmação de recebimento, e QRV para confirmação de disponibilidade.

  • Os códigos de QAA até QNZ são designados para operação aeronáutica;
  • Os Códigos de QOA até QQZ são designados para operação marítima;
  • Os códigos de QRA até QUZ são designados pela ITU para uso geral, incluindo radio amadorismo.

Dentro do código Q de uso geral, temos algumas divisões “práticas”, sendo:

  • QR (Radio) para fraseologia padrão, tais como identificações e uso geral;
  • QS (Signal) para negociações de modulações e operações envolvidas;
  • QT (Traffic) para negociações de tráfego e de mensagens;
  • QU (Urgency) para mensagens prioritárias e informações urgentes.

Note que NÃO existe qualquer proibição a radioamadores utilizarem códigos “QA” em suas comunicações, todavia o uso do “QAP” pode não ser compreendido por todos os radioamadores, especialmente em DX.

73 no início?

Apesar de existirem diversas teorias sobre a origem do código 73, este código foi oficializado pela Western Union em 1859 na tabela “Wire Signal” para abreviações em telegrafia, onde o 73 correspondia ao termo “Best Regards” (Saudações em português). Os operadores de telegrafia, tanto amadores quanto profissionais, sabem que ao receber um 73, a mensagem acabou. Apesar desta convenção, alguns radioamadores que praticam somente fonia acabam por iniciar conversas “desejando um 73 a todos”, como se o 73 fosse boas-vindas, ou um agradecimento genérico. No radioamadorismo, por uso e costume convencionou-se que o 73 deve ser utilizado somente nas despedidas. Não que seja proibido desejar 73 logo no início, mas certamente outros radioamadores acharão isto estranho! Aliás, se você estiver em DX… corre o risco de encerrar o contato logo ao início.

QRX ou QRT?

Em rodadas e até contestes, é comum ouvir que determinado operador está em QRX, ou seja, saiu da escuta mas retornará. E também é comum operadores pedirem QRX e voltarem alguns segundos depois (liberar PTT, TOT, etc). Afinal, a pausa é longa ou breve? Tanto faz! Não é errado afirmar que um operador, que saiu da QRG porém voltará mais tarde, esteja em QRX. O código QRX formal geralmente vêm acompanhado (ou respondido) com um QTR (horário) e opcionalmente com uma QRG em kHz. Já o QRT é mais mais exato, ele significa término: o operador encerrou sua atividade na QRG.

Xingu ou X-Ray?

Apesar dos esforços em definir um alfabeto fonético internacional para rádio operação, algumas letras simplesmente não encaixam-se adequadamente dependendo do idioma e pais. A exemplo da letra X, o X-Ray nos idiomas latinos soam como “équis rei”, mais assemelhado com a letra E do que com a letra X. No Brasil, adotou-se a palavra “Xingu” como substituto ao X. Todavia ao falar a palavra “Xingu”, nas fonéticas de outros idiomas e países também pode não soar como X. A exemplo do idioma inglês, onde Xingu compreende-se algo como “Sheen-Goo“, portanto remetendo a letra S.

Para contatos em idioma português e dentro do Brasil, adota-se livremente o termo “Xingu” para a letra X. Porém para contatos com outros idiomas e países, prefira utilizar o termo internacional “X-Ray com a fonética “équis-rei”, sob o risco de não ser compreendido.

A propósito, esta questão fonética também está presente nas letras C (Charlie) e R (Romeo). Para a letra C, uma alternativa aceita globalmente é a palavra “Canada”. Em alguns países e idiomas asiáticos, a palavra “Radio” é aceita em substituição ao “Romeo”.

Quanto vale um QSJ?

Obviamente, as comunicações entre radioamadores não requerem e não obrigam-se à regras e definições comerciais, portanto estando livres os radioamadores para definirem seus QSJs em suas moedas locais, ou, da forma como desejarem.

O código QSJ formal, pergunta ou responde, qual o custo de atracagem/hangaragem da embarcação/aeronave no porto/aeroporto. Desde 1890 a ITU definira que informações de custos e valores seriam expressos em Francos (franceses) quando não houvesse indicação de moeda específica. Naquela época, o Dólar Americano ainda era uma moeda pouco expressiva e apenas local, enquanto a Libra Esterlina era evitada, devido ao acréscimo em impostos sobre a Libra. O Franco, sendo uma moeda lastreada em prata, era adotada como moeda de comércio internacional até 1919. Em 2002 foi substituída pelo Euro. Portanto, na navegação comercial, 1 QSJ vale 1 Euro.

PFV ou SVP?

A abreviação de “Por Favor” como PFV até pode ser entendida por radioamadores de idiomas latinos, mas não fará sentido em outros idiomas, bem como os latinos não compreendem o PLS ou BIT ou ONG de outros idiomas. Os radioamadores então optaram por herdar mais uma das convenções antigas de telegrafia, adotando o SVP, que é a abreviação do termo francês “S´il Vous Plaît“. Apesar de ser uma palavra do idioma francês, quando em fonia o operador deve soletrar as letras SVP na fonética inglesa, algo como “ÉS – VI – PI”. Durante contatos internacionais, use sempre o SVP, caso queira que seu “por favor” seja entendido.

SOS, break, ou MayDay?

Depende da operação. O SOS é usado em telegrafia. Algumas teorias dizem que significa “Save Our Souls” (salve nossas almas, em português), mas independente de origem, os telegrafistas conseguem facialmente reconhecer as letras S O S em meio ao tráfego, dado seu característico sinal composto por 3 pontos, 3 traços, e 3 pontos ( . . . – – – . . . ). As antigas máquinas eletromecânicas de telegrafia eram programadas para emitirem alertas visuais e sonoros assim que identificassem SOS ( . . . – – – . . . ) em alguma transmissão.

Já o break, é usado em fonia, com operador em terra firme. A propósito, não deve-se usar SOS em fonia pois sua fonética não é reconhecida facilmente dentre os diferentes idiomas. Nestes pedidos de ajuda com break, o operador primeiro encontra uma QRG onde existam outros operadores em comunicação, e então lança portadoras por cima do tráfego, falando o termo em inglês “Break! Break! Break!” por três vezes. Faz uma pausa, e repete o procedimento até conseguir atenção.

O MayDay é usado apenas na navegação, ou seja, por embarcações ou aeronaves solicitando ajuda. Também deve ser repetido por três vezes, e em alguma frequência onde faz-se ouvir. O termo “mayday” foi criado na década de 1920 e refere-se à palavra “venez me aider” ou “m´aider” do idioma francês e que significa “socorra-me” em português. Desta forma, o termo “mayday” na fonética inglesa poderia ser compreendido no idioma francês como pedido de ajuda, bem como os pedidos de ajuda em francês poderiam ser entendidos pelos operadores no idioma inglês.

CQ? CQ DX?

O termo CQ é uma abreviação fonética do termo em francês “c´est qui?” (estás aqui? em português) e posteriormente compreendido como abreviação fonética do termo em inglês “seek you” (procuro-te, em português). Desde 1912 é utilizado na telegrafia como meio de procura e/ou confirmação de alguma presença em um canal ou QRG.

Quando modulando em fonia, a não ser que você fale o idioma português e procure somente por outros lusófonos na QRG, falar “cê quê” será suficiente. Mas, se você aceita receber contatos de outros idiomas ou países, prefira a fonética em inglês, algo como “ci quiu” ou “si kil”.

Já o agregado DX segue a mesma regra quanto a fonética: prefira a fonética em inglês, algo como “ci quiu, di équis”. O termo DX não significa necessariamente algo internacional, mas sim algo distante. A abreviação DX surgiu de “Distance=X“, indicando que o operador procura por alguma comunicação em distância desconhecida (X), ou seja, DX indica que o operador procura por um contato o mais longe possível.

_____________________ That´s all folks! _____________________

AVISO: Este conteúdo é de inteira responsabilidade do autor (PU2UTR – Renato Machado) e não necessariamente representa as opiniões do R.C. Rancho da Amizade. Este conteúdo foi construído a partir de fontes diversas e experiência pessoal do autor, sendo meramente informativo e não objetivando e não prestando-se à orientações de conduta tampouco ao estabelecimento de regras. A publicação “online” poderá ser alterada a qualquer momento e sem prévio aviso.

Fontes:
https://en.wikipedia.org/wiki/Q_code
https://www.itu.int/rec/T-REC-F.1/en
https://en.wikipedia.org/wiki/Wire_signal
https://en.wikipedia.org/wiki/International_Telecommunication_Union
https://pt.wikipedia.org/wiki/Mayday
https://en.wikipedia.org/wiki/CQ_(call)

1 comentário

    • ANTUNES PU2 PYT em 24 de maio de 2021 às 19:17
    • Responder

    PERFEITO APANHADO DE INFORMAÇOES , MUITO OBRIGADO POR NOS PROPORCIONAR ESTA OTIMAS INFORMAÇOES .. TENHO CERTEZA QUE VAO SER DE GRANDE VALIA A MUITOS RADIOAMADORES.

Deixe um comentário

Seu e-mail não será publicado.